sexta-feira, 1 de junho de 2012

Carta a Carlos Drummond de Andrade

Carta a Carlos Drummond de Andrade




Por Denise Fernandes

Querido Carlos:

Tenho na minha mente uma frase de Chico Xavier que já não sei onde ouvi informando que as comunicações espirituais só acontecem do alto para baixo, do plano espiritual para o material ou terreno. Mesmo com essa informação transmitida insisto na mensagem que te escrevo. Porque quem sabe as regras mudam. De tanto a gente insistir aqui “de baixo”, quem sabe o pessoal aí de cima, do paraíso, purgatório ou plano espiritual não passa a responder as mensagens. Já pensou que alívio. Quanta mensagem de mãe, de pai, irmão, e de filhos chegando, de amigos que já se foram. Ia ser uma alforria da alma, pensa só. Por isso insisto. Queria também saber onde você está: no purgatório, no paraíso ou no plano espiritual? Se estiver em outro lugar, pode contar.
Carlos, a situação é grave. Por isso te escrevo. Fala com os outros poetas, avisa que eu imploro. O caso é o seguinte. Quando ela tinha onze anos de idade, ela pendurou no mural dela o seu poema, querido Carlos, os ombros suportam o mundo. Fiquei surpresa. Como? Como aquele poema estava ali? E como os ombros dela suportavam o mundo? Li e reli o poema no mural várias vezes como se uma nova leitura pudesse me revelar algo que eu não soubesse e revelava. Quanto mais lia, mais confusa eu ficava porque ela era muito nova. Onze anos, magrela, o poema brotou de onde? Perguntei o porquê do poema no mural e ela me olhou com aqueles olhos tristes-alegres e aquela expressão de mistério-cumplicidade. Entendi silenciosa que os ombros dela e os seus suportavam o mundo e saber disso me doeu de forma estranha. Talvez eu intimamente soubesse que se os ombros dela suportavam o mundo, talvez um dia ficassem como hoje sem suportar mais, tivessem em si essa revolta louca. Perguntei a ela outro dia o que ela estava querendo agora. E ela me disse simplesmente nada. Mesmo sabendo que nada é super bom, fiquei pasma. Se nem os ombros dela nem os seus suportam mais o mundo, o que será da vida apenas, sem mistificação? Como será esse tempo de absoluta depuração, em que o amor resultou inútil? Sem que vocês suportem o mundo, continuarão as mãos a tecerem o rude trabalho? O mundo pesa muito mais do que a mão de uma criança e os olhos de vocês não querem mais resplandecer nem enormes nem pequenos. Há na ausência um gesto. Vocês já não se importam com o mundo? Os olhos agora choram, inundam os dias e tornam impossíveis as mais simples tarefas. Estou com medo, Carlos. Não é mais a ditadura, mas ainda é, um anjo me falando vai ser gauche na vida. A violência continua dividida em tantas microformas. O caminho está cheio de pedras. E formigas. Ela resolveu parar. Anda por aí sem se importar de fato. Ela está com uma pergunta anterior ao mundo. E você, está no mundo? Ou o mundo em que você está é tão outro mundo que não é mundo? Sem ombros para suportar o mundo, ele se sustenta, Carlos, ou fica absurdo?
Ela não tem mais mural. Por favor, Carlos, escreva-me. É de um outro mural e um outro poema que ela precisa. É como se estivéssemos com uma página em branco na Poesia do Mundo. Essa página em branco é um silêncio entre as palavras que monótonas não parecem mais comprometer. Há um desespero que se renova na humanidade: esperamos uma resposta sua ou você morreu?

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Presunto

PRESUNTO
A Maria já chegou logo falando:
-Assim não tá dando prá agüentar. Outro presunto na rua hoje lá. Na frente da casa do meu cunhado, ao lado do quintal do meu vizinho. Em São Miguel, tá assim. É um presunto por dia, não tá dando, não!
Tudo que eu queria era comer o meu presunto em paz. O presunto da geladeira teve que se deparar com um outro, o que a Maria trouxe com ela de São Miguel. Tudo espesso. Tinha acordado tão bem e tudo ficou espesso logo cedo. Logo um passarinho cantou. Deus abençoa quem cedo madruga com os passarinhos que ainda restam aqui em São Paulo, sou dessas premiadas silenciosas, curtindo meus passarinhos anonimamente na cidade mórbida, poluída, colorida e cadavérica, mas com esse segredo de passarinho na minha casa, passarinhos para mim, ninhos a descobrir. Fui salva pelo pássaro. Salva da Maria. Por que São Miguel tem nome de santo, deve ser apelo. E apelamos aqui a São Miguel por todos os presuntos instalados em São Miguel , dia a dia.
A chuva fina caía lá fora. Desde a madrugada estava chovendo. Acordei com as trovoadas fora de hora, duas da manhã, eu assustada, sem saber com o quê ao certo. Talvez exista um medo básico da chuva em cada ser humano, ou um certo sustinho da trovoada. Demorei para pegar no sono por causa da chuva e da saudade de você. A cama grande, meio vazia, sentindo a sua falta.
Tomei café vigiando minha alma, sem relaxar , entende. Comi presunto. Presunto era o que eu mais tinha saudade quando eu era vegetariana. Pizza portuguesa. Você se lembra dessa fase, quando eu era vegetariana? Tudo num esforço total, árduo.
Depois do café da manhã, encontrei o Vinícius. O Vinícius é nosso vizinho, um homem de trinta e sete anos deficiente mental, que quer casar. Ele faz cartões de visita que distribui às mulheres que consegue abordar na rua. Ele queria me mostrar seu cartão novo. Chegou bem perto com seu guarda-chuva, daquela maneira aflitiva como sempre chegava:
-Oi, você pode olhar meu cartão? É novo!
Impossível dizer “não”. A criança tão próxima do adulto, a inocência tão perto do absurdo. O cartão novo do Vinícius tinha além do nome e telefone, a data de aniversário. Vinícius me perguntou se eu achava que ele tinha assim mais chances de encontrar uma esposa. A idéia dele era entregar o cartão e já explicar logo que queria compromisso. Falei a ele que não era assim que funcionava, precisava ficar amigo primeiro. Ele me explicou que não tinha tempo. Ficou difícil eu continuar argumentando ante o argumento dos argumentos: não tenho tempo. Fiquei quieta. Guardei o cartão. Me despedi do Vinícius e ganhei a rua, inquieta rua, São Paulo prá sempre perdida no seu harmonioso caos.
O dia inteiro você me ligou seis vezes hoje. Chuva e carência. Eu e você estávamos carentes, não é sempre assim, a gente não se liga tanto. Hoje foi um desequilíbrio. De vez em quando, um desequilíbrio não pesa: é uma fatia de presunto nessa imensa lasanha. Hoje, a chuva contribuiu para a água do mundo e até nós, estamos mais aquáticos, sem vinho já embriagados em telefonemas de amor e obscenidades.
Cheguei em casa e a Maria continuava assustada.
- Você parece que não tem medo da chuva, não tem medo da morte, não tem medo de nada.
- Tenho medo de rato, Maria. Tenho medo de rato. Chuva não atrapalha tanto, molha, mas beneficia, tem que limpar a poluição e ainda tem as plantas, as represas. A morte é tão ruim que a gente precisa esquecer, é sempre ruim.
- Mas tem morte melhor, morte pior.
-É sempre morte, é sempre ruim.
Fiquei tão impressionada com a sombra da morte que não quis saber dos detalhes da morte melhor, morte pior. A Maria também havia ganho o cartão novo do Vinícius. A
chuva não o impediu, uma solidão gigantesca o impelia. E me alcançava.
Aqui espero seu telefonema. Saudades. Como o presunto que sobrou na geladeira. A chuva só resolveu parar agora, nove horas da noite. A Cidade está inteira molhada. Será que amanhã vai ter outro presunto em São Miguel?

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Quase feliz, casamento: 12/03/87.

1. Resta escrever sobre os azulejos da cozinha. Contei todos. Meia xícara de mostarda com duas de tomate, oito azulejos azuis com dois verdes. Quanto são? Quanto são? Diga, amor meu, diga. Diga quantos filhos temos, diga.
2. Amor meu: goiaba com biscoito com mel. Se eu dissesse tudo em inglês seria underground, não seria?, amor. Bem sabe você que parei meu curso de inglês. Além de não gostar, achei que não tinha utilidade. Útil deve ser aquilo que não compete com nada, não?
3. Esqueci de lhe contar- ralei meu dedo no ralador de cenouras. Só notei depois de alguns instantes, mas fique tranquilo, amorzinho, não lhei dei comida com sangue, lhe dei foi comida com mel.
4. Não sei mais como lhe encontrar. É que para lhe encontrar, teria que lhe esquecer nem que fosse por dois minutos.
5. O desodorante acabou, o sal também. De agora em diante seremos pessoas sem cheiro, sem gosto. Indistintos, seremos moléculas livres. Irresistivelmente amenos.
6. Não sei mais porque essas palavras, porque escrever. Palavras não se contam. Convivo mal com a dúvida, você bem sabe, e ante essa dúvida de escrever, simplesmente lhe desacarto e prossigo. A vida é um trem bala ou um lampião aceso. Não importa. Estou disposta a correr o risco. Penso sempre naquelas mulheres dizendo: "sem subterfúgios". Não sei como alguém pode ter subterfúgios na frente do fogão. Pois bem, sou uma mulher sem subterfúgios.
7. Foi depois de um mês que você me chamou de traste, incômodo? Foi, deve ter sido. Aquele mau humor gelado de manhã.
8. Não me esqueço daquela socióloga que distribuía uns panfletos sobre a exploração da mulher. Tinha quatro filhos. Lembro do "uni-vos" me negrito. Não quero me unir a nada. Quero ser sozinha. A vizinha me pediu o alicate emprestado. Espero que ela espete o rabo.
9. Doce- toda tarde tenho vontade de comer um doce. Você é um anjo mau que não me atende. Às vezes, penso que vou dormir com os anjinhos. Tem pintinhos coloridos e são gostosos. Papos-de-anjo. (Sem sementes).
10.Cenoura, quiabo, mandioca. Será que esqueci alguma coisa? Esqueci, sim. Foi na cabeceira da cama ou no chão do automóvel, mas foi um esquecimento rápido, oportuno. Nunca esquecimentos longos, profundos, do chão do navio, da cabeceira da morte; sou oportuna, meu amor, oportuna.
11. As mulheres das revistas são falsas. Pintadas, retocadas, são o seu mau gosto saudável. Não digo nada. Quando você sai, torço as revistas; às vezes, xingo. Outro dia, joguei uma página fora. Ela era muito saudável.
12. Tudo que há de melhor, a gente tem aqui. Enfio a minha cabeça no seu peito, a gente é quase uma família. Uma ostra complexa, fechada. Qualquer dia, vou vestir meu vestido de noiva. Pra ir a uma festa a fantasia ou qualquer coisa assim. Sou quase feliz. Finalmente, o amor não tem nada de trágico. Eu mesma, tenho amor por quatro.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Ridícula

RIDÍCULA

Ridícula e nua,
Sem fantasia. É só meu coração que naufraga de novo.
Dentro de um copo de vinho do porto, esse coraçãozinho.
Sem palavras. E você me pede para não fazer drama.
Drama para quê? É só meu coração que parte.
Não colocaram a música dos Beatles.
Não fizeram a conta de quantas noites esperei, quantos dias.
Há só acusações em relação ao passado, taxa de juros, ordem de despejo.
Preciso sair deste quarto onde te espero e você não vem.
Preciso pagar a conta de tanto atraso: não mereço, basicamente não mereço. Acordar sozinha, andar sozinha, dormir sozinha: esse é o real, dia após dia.
Enquanto você se diverte com seu passado, seus desejos, suas novas fantasias. Enquanto você me responde com longos silêncios e a afirmação divertida de que eu não passo de uma mulher.
Enquanto isso, é meu relógio que se perde: o tempo onde o tempo não é inimigo.
Não há música no ar e meu passado não justifica suas dúvidas atuais, por mais que você tente. Não há padre nesse nosso casamento onde eu, ridícula noiva, deito num altar sem buquê. É o olhar de Deus que me lembra que apesar de ridícula e boba estou salva.
O amor é também essa faca de palavras e pensamentos com que você corta o meu coração para que ele não doa. O amor é esse vento frio em pleno verão, esse vazio no sofá, essa sensação de ridículo que eu senti de salto alto e vestido vermelho. De novo amar e não ser visível; sou apenas esse gesto, esse corpo nu na cama- sem registro; só saudade e vida a pulsar esperando.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Solidão

Solidão

Solidão é um porre que não termina. Sabe quando você bebe muito e ainda acorda bêbado. Aconteceu comigo, mais de uma vez. A última foi quando tentei tomar uísque com Red Bull e ser moderna. Solidão é assim.
Solidão é um naufrágio sem sentido. Algo que você fala e ninguém entende. Você se arrepende de ter falado, mas nem por isso as palavras e o som se apagam.
Solidão é um remédio estranho. Você toma e não faz efeito. Você não entende o médico, nem muito menos o que seu fígado fez com o remédio.
Solidão é um bem que é um mal. Algo assim como estar apaixonado e decepcionado: solidão é um ar quente num dia quente, um ardor na fronte, no cérebro. Solidão é um banho que você toma sem querer tomar: só para ver se resolve.
Solidão não acaba com companhia. Ela acorda como quem não quer nada e se instala no dia: como um sol abafado. E não vai embora. O dia termina, mas a lembrança do sol ainda queima o seu corpo. O cansaço é solidão, agora sei. Solidão do corpo e da alma, saudades de outros tempos.
Solidão é saber que não se pode voltar.
Solidão é você me falar que a crise é sua, não tem nada a ver comigo.
A solidão não tem lágrimas, sorrisos ou amigos. Ela é uma âncora da eternidade. Porque Deus se sentiu sozinho e criou o resto do mundo. E tenho vontade de te recriar, aonde havias: filho ou homem.
A solidão é uma mulher bem vestida, maquiada, com um sapato de festa, sem convites, sem ninguém a esperar.
A solidão é essa noite sem vento, sem lua no céu: ela é um ocaso da minha maturidade- inesperado, tardio. É uma menopausa: não dói, não sangra. Não passa na televisão, não dá Ibope.
Soa como os ônibus que passam às cinco da manhã nas noites de insônia: sinal de algo que não se sabe, não se quer. Quem quer um dia após uma noite de insônia, outro dia?
A solidão é um recuo da sabedoria. É essa porta que já sei onde vai dar.
Enquanto você sofre, fico só. Olho-te do outro lado do vidro que nos separa. Tão tênue, coração de vidro.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Seu pai

Seu pai
Seu pai tinha os olhos verdes mais loucos de Amor que já vi.
A paz mais profunda que já senti.
Eles estavam fechados dentro do caixão e
Corri prá Casa.
Desde então percebi o valor da barriga quente do meu pai,
Do seu carro macio deslizando sobre as ruas esburacadas
Dessa Cidade.
E quando o seu Violino mágico canta,
Vou até a Terra encantada onde meu pai me ensinou a tirar matinho do Jardim para ganhar 1 real e gastar na vendinha comprando balas e dividindo com quem tem menos.
Seu pai me ensinou a fazer Amor de roupa porque sua mãe nos contou que nunca viu seu pai pelado.
Sua mãe me ensinou a amar em Silêncio, sem vícios, sem perdão e sem pintão.
Por causa dela, casamos na Igreja Católica e meu pai entrou de óculos escuros comigo.
É só por isso que rezo prá Virgem Maria, para que não nos deixe nem cegos, nem castos, fazendo bonito, ou sempre com aquele pacotinho de Miojo na mão.
E porque não sei o rosário nem tocar violão
Queria fazer do samba uma canção
Cheia de notas e melodias,
Com muito macarrão !

Mistério

MISTÉRIO
Planejei anos o conto da vingança. Em alguns momentos, mais sintéticos e profundos, seria um poema. Colocaria a palavra morte, sangue, a palavra Amor. Nem pensei que seria a morte da nossa melhor amiga, talvez a nossa única amiga verdadeira, que não percebeu nossa separação como uma saída, que me levaria ao computador.
É, infelizmente não estou aqui porque você gritou comigo, atrasou a pensão, mentiu dizendo estar ocupado ou não ter dinheiro. Estou aqui porque estou com saudade de falar com você e sei que seria inútil falar porque na verdade não existe o perdão e ele não cola coração e as lembranças não escritas não querem me deixar dormir essa noite.
Lembro sempre da gente rindo e cantando e o sexo desapareceu da minha mente. Não, eu não parei de menstruar e amo meu marido atual. Pelo menos na cama com ele está bom.
O que me assusta é perceber na minha mente que a cozinha suja não cheira mais a azedo, que as mágoas desapareceram e eu tenho vontade de chorar porque de repente tudo ficou bonito. Não sabia que seria assim envelhecer.
E preciso te contar que rio das nossas traições, nos acho divinamente ridículos e tolos e malucos e engraçados e perfeitamente engajados nos mais nobres valores da arte moral de ser infeliz agradando a todas as mais vaidosas criaturas.
Parece que ando em círculos abrindo o jogo e questionando a existência, mas não há dados em minhas mãos. Estou profundamente chateada por ser tão sua Amiga e sincera e ter visto nossa Amiga morrer. Achei que eu ia morrer antes dela. Não sei porque achei isso e agora vão ser mais anos de análise e terapias diversas para entender o que essa minha mente sombria, travessa e mal iluminada apronta prá mim nas noites de penumbra.
Converso com nossa Amiga nos nossos pensamentos e Ela me diz que não está bom como está. Que deveríamos fazer as pazes no mais íntimo de nossas Almas, porque do lado de lá tudo que é ódio vira Escuridão e só o amor purifica o mais longo dos dias que se chama Morte.
Ai, a solidão é este cálice onde enfio meus dedinhos cheios de Mel e os retiro.
Estamos no ápice e uma vertigem ainda nos atrai. Não é o vértice, um balão no céu que só existe na minha memória. É uma flor esquisita que nasceu onde eu não esperava. É um mês de balanço em pleno carnaval. São todas as estações sabendo que você criticaria minha falta de estilo escrevendo, minha falta de tesão pela pessoa certa e meu saco cheio por tudo isso que se chama prendas domésticas. Até de feng-shui cansei. Agora só quero viver essa paixão que tem me abençoado todos os dias. Não vou mais pedir perdão. Quero ser abraçada por uma multidão nua e sem culpas, sem a invenção do juízo final e do fim de nossos dias...
Ando com a foto do nosso neto na agenda e não sabia que a vida me daria tanta ternura e meiguice junto com as varizes.
Lembro de mim dançando e cantando “On the sentimental side” da Billie Holliday , com a camiseta lilás estampada que comprei numa liquidação que achei nos Jardins.
Hoje me disseram que “Felicidade” é o nome de um filme triste. Não pode ser. Acho que esqueceram de mim em algum circo do interior, no íntimo de um estojo do instrumento metálico. Sou uma partitura e o sentimento da neblina, a nostalgia do que não quer voltar nem ir
Sem, sem ponto final porque estragaria tudo que sempre foi bom em nossas vidas
E ainda é selvagem